12/01/2015
de EXAME.com
Tal Ben-Shahar: segundo professor de Harvard, sucesso só leva a um aumento temporário no nível de felicidade |
São Paulo - Você só será realmente feliz quando tiver alcançado sucesso profissional, certo?
Errado. Na visão do escritor israelense Tal Ben-Shahar, docente na Universidade Harvard até 2008, a sociedade vive uma crise de satisfação no trabalho justamente por acreditar que ser bem-sucedido é "pré-requisito" para se sentir bem.
Apoiado em conceitos de psicologia positiva, tema de suas aulas em Harvard, Ben-Shahar argumenta que a felicidade, ela sim, é a condição prévia para trabalhar mais e melhor - e então ter mais chances de dar certo na profissão.
A seguir, veja os principais trechos da entrevista que o professor concedeu a EXAME.com:
EXAME.com: Pesquisas mostram que a insatisfação com o trabalho é crônica no Brasil e no mundo. Por que há tanta gente desanimada?
Tal Ben-Shahar: Uma das explicações é que não temos tempo para nos recuperar nunca. Estamos online, conectados o tempo inteiro. E, da mesma forma que carros de corrida precisam de um “pitstop”, nós também precisamos.
EXAME.com: Como aumentar o bem-estar no trabalho?
Tal Ben-Shahar: É indispensável fazer intervalos regulares durante o dia de trabalho, além de ter tempo para se recuperar em casa. Estar conectado o tempo todo não ajuda nem o funcionário nem a empresa. Precisamos ter 15 minutos de pausa a cada uma ou duas horas, pelo menos um dia de descanso por semana e pelo menos um período de férias a cada seis ou 12 meses.
Tal Ben-Shahar: É indispensável fazer intervalos regulares durante o dia de trabalho, além de ter tempo para se recuperar em casa. Estar conectado o tempo todo não ajuda nem o funcionário nem a empresa. Precisamos ter 15 minutos de pausa a cada uma ou duas horas, pelo menos um dia de descanso por semana e pelo menos um período de férias a cada seis ou 12 meses.
Outro fator importante é encontrar um ambiente de trabalho que ofereça o que a professora Amy Edmondson, da Universidade Harvard, chama de “segurança psicológica”. Trata-se da certeza de que nenhum membro da equipe será humilhado ou punido se falar o que pensa, pedir ajuda ou falhar em uma tarefa. Quando os chefes criam um clima de segurança psicológica, quando a equipe se sente confortável para “fracassar” e discutir seus erros, então todos podem aprender e melhorar.
EXAME.com: O senhor costuma dizer que, ao contrário do que dita o senso comum, a felicidade é que leva ao sucesso, e não o contrário. Por quê?
EXAME.com: O senhor costuma dizer que, ao contrário do que dita o senso comum, a felicidade é que leva ao sucesso, e não o contrário. Por quê?
Tal Ben-Shahar: A partir de muitas evidências científicas, podemos dizer que o sucesso, no máximo, leva a um aumento temporário no nível de felicidade de uma pessoa.
O bem-estar é que leva ao sucesso. Essa é uma descoberta muito importante, porque corrige um mal-entendido histórico. Uma das causas da infelicidade no trabalho é a falsa crença de que o sucesso é a causa e a felicidade, o seu efeito.
Quando experimentamos emoções positivas somos mais criativos, construímos relacionamentos melhores e temos mais saúde. As empresas deveriam investir na felicidade dos seus funcionários como um fim em si mesmo e também como uma forma de aumentar seus lucros. A felicidade compensa.
EXAME.com: A jornalista americana Brigid Schulte, autora de um best-seller sobre o culto excessivo ao trabalho, acredita que a carreira está se tornando a nova “religião” de muitas pessoas. O senhor concorda?
Tal Ben-Shahar: Sim. A carreira é muito importante, afinal passamos a maior parte do nosso tempo acordados trabalhando. Mas é preciso prestar atenção ao mundo lá fora. Relacionamentos, por exemplo, estão ficando para trás na corrida pelo sucesso profissional. Há um preço muito alto a ser pago por isso, sobretudo porque a felicidade está atrelada ao tempo que passamos com as pessoas que amamos e que nos amam.
Tal Ben-Shahar: Sim. A carreira é muito importante, afinal passamos a maior parte do nosso tempo acordados trabalhando. Mas é preciso prestar atenção ao mundo lá fora. Relacionamentos, por exemplo, estão ficando para trás na corrida pelo sucesso profissional. Há um preço muito alto a ser pago por isso, sobretudo porque a felicidade está atrelada ao tempo que passamos com as pessoas que amamos e que nos amam.
EXAME.com: No passado, o jovem podia escolher entre poucas profissões clássicas, como as de médico, advogado ou engenheiro. Hoje, porém, há uma oferta bem mais variada de cursos e caminhos possíveis. Isso aumenta as chances de ser feliz no trabalho?
Tal Ben-Shahar: Ter mais poder de escolha é um privilégio e um fardo. Ter muitas opções pode ser ruim, porque não nos perdoamos se somos infelizes. Afinal, tendo tido tantas possibilidades, como você pode estar insatisfeito? Você pensa que a culpa é sua.
Apesar disso, quanto mais alternativas, mais chances você terá de encontrar o que é melhor para você. O segredo é perdoar a si mesmo e aceitar que a infelicidade faz parte da vida. E, claro, procurar aquilo que tem significado e traz prazer para você.
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