sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Neurocientistas criam canal de vídeos de divulgação científica no YouTube

17 de dezembro de 2014

Sonhos, efeitos do uso de drogas e outros temas relacionados ao cérebro são abordados no NeuroChannel
Agência FAPESP – Para disseminar informações relacionadas a estudos em neurociência, pesquisadores da área criaram o NeuroChannel, canal de vídeos no YouTube gerido pelo comitê organizador do 9º Congresso Mundial do Cérebro, que, em 2015, será realizado pela International Brain Research Organization (Ibro) no Rio de Janeiro.
Desde abril o canal publica vídeos curtos sobre temas da neurociência, com legendas em português e inglês, dirigidos a neurocientistas e ao público leigo em geral.
Em um dos vídeos, Roberto Lent, professor do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), fala sobre o fascínio que o cérebro exerce sobre as pessoas e métodos utilizados para estudar o órgão.
Os vídeos também trazem pesquisadores estrangeiros. Uma das gravações aborda o vício em drogas, com Barry Everitt, professor da University of Cambridge, no Reino Unido, falando sobre a vulnerabilidade do cérebro humano a substâncias estimulantes e refletindo sobre os principais desafios nesse campo.
A iniciativa conta com o apoio da Ibro, da Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento (SBNeC), do Centro de Estudos e Pesquisas Paulo Niemeyer e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Além do canal no YouTube, em www.youtube.com/user/neurochannel1, o NeuroChannel tem uma página no Facebook:www.facebook.com/neurochannel.

Método identifica regiões cerebrais relacionadas com o déficit de atenção


17 de dezembro de 2014

Por Elton Alisson
Agência FAPESP – Um grupo de pesquisadores do Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo (IME-USP) está desenvolvendo técnicas estatísticas e computacionais para analisar grandes volumes de dados, como imagens de ressonância magnética do cérebro, a fim de identificar marcadores biológicos de disfunções neurológicas como o transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH).
Pesquisadores da USP desenvolvem técnicas estatísticas e computacionais para analisar grandes conjuntos de dados biológicos, como imagens de ressonância magnética do cérebro (imagem: Human Connectome Project)
Resultados da pesquisa, realizada com apoio da FAPESP, foram apresentados durante o encontro Brazil-UK Frontiers of Engineering, em novembro, em Jarinu, no interior de São Paulo.
Promovido pela Royal Academy of Engineering, do Reino Unido, em colaboração com a FAPESP, o evento reuniu 63 jovens pesquisadores de diferentes áreas da Engenharia – 33 do Brasil e 30 do Reino Unido –, atuantes em universidades, instituições de pesquisa e empresas.
“Há oito anos começamos a desenvolver técnicas que relacionam Estatística e Ciência da Computação para analisar conjuntos de dados em Neurociência e Biologia Molecular e tentar identificar marcadores biológicos mais objetivos e baseados em análises quantitativas de disfunções cerebrais”, disse André Fujita, professor do IME-USP e coordenador do projeto, à Agência FAPESP.
De acordo com Fujita, as técnicas em desenvolvimento permitem comparar, em diferentes populações, a variabilidade das estruturas de agrupamento de dados biológicos, como as das redes neurais.
Já se sabia por meio de estudos realizados pelo mesmo grupo do IME-USP que a estrutura da rede neuronal dos pacientes diagnosticados com TDAH é diferente. Nessas pessoas, o cérebro apresenta uma desorganização do funcionamento dos circuitos neuronais, chamada entropia de rede.
Agora, os pesquisadores usaram o método de análise estatística de variabilidade de estrutura de agrupamentos de dados biológicos – chamado Analys of Cluster Structure Variability (Acnova), desenvolvido em colaboração com colegas da Universidade Federal do ABC (UFABC), da Princeton University, nos Estados Unidos, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) – para identificar regiões específicas do cérebro envolvidas com o transtorno que apresentam maior entropia de rede.
No estudo, eles compararam imagens de ressonância magnética funcional (fMRI) do cérebro em estado de repouso de mais de 600 crianças e jovens, com idades entre 7 e 21 anos, com e sem diagnóstico de TDAH.
As imagens, feitas em oito países, são do consórcio internacional de pesquisa ADHD-200, lançado por universidades e instituições de pesquisa dos Estados Unidos e da China, que mantém um banco de dados aberto com imagens de fMRI do cérebro de crianças e adolescentes com TDAH ou não. A comparação das imagens cerebrais indicou que existem várias diferenças na estrutura de agrupamento do cérebro.
As estruturas de agrupamento das sub-redes neurais que constituem as áreas dos giros pós-central, temporal superior e inferior do cérebro de pacientes com TDAH apresentaram entropia de rede estatisticamente mais elevada em comparação com crianças e adolescentes com desenvolvimento cerebral normal, apontou o método de análise estatística.
Além disso, o método identificou diferenças em regiões do cérebro até então não relacionadas com o transtorno, como o giro angular – que contribui para a integração de informações e desempenha papel importante em muitos processos cognitivos –, afirmaram os autores do estudo.
Fujita estima que, no futuro, poderá ser possível diagnosticar o transtorno neurobiológico por imagens de ressonância magnética funcional do cérebro, comparando as estruturas das redes neurais. E que a nova técnica poderá ser aplicada a outros conjuntos de dados relacionados a outras condições.
“O método que propomos também pode ser aplicado a outros conjuntos de dados biológicos de interesse, não apenas imagens de ressonância magnética funcional, como os de expressão de genes de pessoas diagnosticadas com câncer de mama”, acrescentou.
Resultados da pesquisa foram publicados nas revistas Neuroimage e Statistics in Medicine, entre outras.
O artigo “Measuring network's entropy in ADHD: A new approach to investigate neuropsychiatric disorders (doi: 10.1016/j.neuroimage.2013.03.035), de Sato e outros, pode ser lido na revista Neuroimage emwww.sciencedirect.com/science/article/pii/S1053811913002772.
E o artigo “A non-parametric statistical test to compare clusters with applications in functional magnetic resonance imaging data” (doi: 10.1002/sim.6292), de Fujita e outros, pode ser lido na revista Statistics in Medicine em onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/sim.6292/pdf

Measuring network's entropy in ADHD: A new approach to investigate neuropsychiatric disorders


  • a Center of Mathematics, Computation, and Cognition, Federal University of ABC, Rua Santa Adélia, 166, Santo André, SP, 09210-170, Brazil
  • b Department of Psychology and Neuroscience Institute, Green Hall, Princeton University, NJ 08540 Princeton, USA
  • c Laboratório Interdisciplinar de Neurociências Clínicas (LiNC), Department of Psychiatry, Federal University of São Paulo, São Paulo, Brazil
  • d Center for Molecular Biology and Genetics Engineering, University of Campinas, Av. Candido Rondon, 400, CP6010, Campinas, SP, 13083-875, Brazil
  • e Department of Computer Science, Institute of Mathematics and Statistics, University of São Paulo, Rua do Matão, 1010, Cidade Universitária, São Paulo, SP, 05508-090, Brazil

ADHD-200


ADHD-200 é um consórcio internacional de pesquisa criado por universidades e instituições de pesquisa dos Estados Unidos e da China. As instituições mantém um banco de dados aberto com imagens de fMRI do cérebro de crianças e adolescentes com TDAH ou não. A comparação das imagens cerebrais indicou que existem várias diferenças na estrutura de agrupamento do cérebro.

http://fcon_1000.projects.nitrc.org/indi/adhd200/

Encontrados os três mapas genéticos do autismo

A maior fotografia da doença revela que as mutações conformam o grande fator de risco


JAVIER SAMPEDRO 29 OCT 2014 - 19:40 BRST

Crianças afetadas pelo autismo aprendem através de pictogramas em uma escola especial, em 2009. / EL PAÍS

As causas do autismo são discutidas há meio século e continuam sem estar claras, mas cada vez fica mais evidente a transcendência dos fatores genéticos. Dois macroestudos apresentados na revista Nature confirmam agora os fortes e complexos componentes genéticos do autismo, identificam mais de 100 genes relacionados com o risco de desenvolver a doença e revelam os três grandes mapeamentos pelos quais viaja esse emaranhado de material hereditário. Dois deles – a formação das sinapses e o controle dos genes cerebrais – eram de certo modo esperados, mas ninguém contava com o terceiro: a cromatina, uma arquitetura de alto nível que empacota ou expõe grandes áreas da geografia genômica em resposta ao ambiente.
Os resultados têm implicações imediatas para o diagnóstico genético do autismo, que agora é formado por um modesto 20% de capacidade de predição e poderá se multiplicar em poucos anos, embora certamente com a introdução das modernas técnicas da genômica – o sequenciamento de exomas, ou a parte do DNA que significa proteínas – ao alcance dos serviços de psiquiatria hospitalar. Além disso, esses dados darão trabalho durante muito tempo aos neurocientistas, que deverão esclarecer como esses genes afetam o cérebro, e aos farmacêuticos, que poderão dirigir seus dardos químicos contra toda uma nova bateria de alvos.
O autismo, que aparece mais ou menos em uma de cada 100 crianças, é um transtorno de desenvolvimento que afeta a capacidade social, de comunicação e de linguagem, e costuma ser evidente antes dos três anos de idade. O autismo “clássico”, a síndrome de Asperger e o transtorno generalizado do desenvolvimento não especificado (PDD-NOS pela sigla em inglês) são três quadros relacionados que costumam se agrupar sob o guarda-chuva de transtornos do espectro autista. Os macroestudos abrangem este espectro em geral, e não apenas o autismo clássico.

Os resultados têm implicações imediatas para o diagnóstico genético do autismo.
As mutações herdadas e de novo – ocorridas nos óvulos ou no esperma dos pais, e que, portanto, dão lugar a casos sem precedentes familiares – são o principal fator de risco para desenvolver o autismo; somando os dois tipos de mutações, os dois novos estudos identificam mais de 100 genes de risco. São, de longe, os maiores estudos sobre genética do autismo feitos até o momento.
O primeiro envolveu 37 instituições científicas internacionais, incluídas duas espanholas, foi coordenado pelo neurocientista e geneticista Joseph Buxbaum, do Hospital Monte Sinai de Nova York, e analisou o genoma de 3.871 autistas e 9.937 controles relacionados. O segundo foi coordenado por Michel Wigler, do Laboratório Cold Spring Harbor, também em Nova York, e examinou o genoma de 2.500 famílias com filho autista, com um foco particular nas mutações de novo, que podem superar 20% de todas as mutações de risco segundo sua análise.
Estas mutações de novo são parte da razão pela qual a influência genética no autismo foi subvalorizada nos primeiros estudos: apesar de ter uma causa genética, estes casos não apresentavam relações familiares óbvias. “Mas as mutações de novo não são nenhuma peculiaridade do autismo”, explica Ángel Carracedo, da Universidade de Santiago de Compostela e coautor do primeiro trabalho. “Nossos óvulos e espermatozoides sofrem mutação, é parte do mecanismo de geração da diversidade humana.” A outra autora espanhola é Mara Parellada, da Universidad Complutense.
Bauxbaum, líder desse mesmo estudo, acha que o consórcio não só contribuiu com a fotografia teórica mais completa de como numerosas mudanças genéticas se combinam para afetar o cérebro das crianças com autismo, “mas também sobre as bases do que torna os humanos seres sociais”. Em termos lógicos, esses mesmos genes devem formar, quando funcionam corretamente, a base lógica das estruturas sociais do cérebro.

Estes estudos contribuem para o mapeamento teórico mais completo de como numerosas mudanças genéticas se combinam para afetar o cérebro das crianças com autismo.
“Todas estas descobertas genéticas”, continua Bauxbaum, “devem ser transportadas agora a estudos moleculares, celulares e animais para conseguir futuros benefícios para os afetados e suas famílias; um estudo como este cria uma indústria de muitos anos, com laboratórios procurando os efeitos fisiológicos das mudanças genéticas que encontramos e procurando fármacos para contrapor seus efeitos”.
“A genética que subjaz ao autismo é altamente complexa”, acrescenta o segundo coordenador do estudo, Mark Daly, do Instituto Broad (MIT e Harvard, e um dos pontos centrais do projeto genoma público), “e apenas tendo acesso a grande amostras é possível traçar as mutações e entender os mecanismos implicados”.